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Ladrões que atacam fazendas moram perto das vítimas, diz estudo
Quase 70% dos furtos e roubos contra propriedades rurais no Brasil são cometidos por ladrões “vizinhos”, que moram a menos de cinquenta quilômetros de distância das vítimas. É o que aponta levantamento parcial do Observatório da Criminalidade no Campo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Os dados foram obtidos diretamente dos produtores, que desde fevereiro deste ano podem comunicar os crimes por um formulário especial na internet, criado pela CNA para mapear a violência no campo.
“Cerca de 35% dos crimes aconteceram em propriedades que estão a menos de 20 km da sede do município. Outros 29% são ataques contra propriedades que ficam a uma distância de, no máximo, 50 km. Ou seja, em 64% dos casos estamos falando de distâncias curtas, um indicativo de que talvez não seja tão complicado assim para as autoridades dar proteção às propriedades mais visadas”, avalia André Sanchez, coordenador do observatório da CNA.
A julgar pelas informações fornecidas pelos agricultores, os ladrões têm apostado na impunidade, já que o índice de reincidência alcança 66% das propriedades; ou seja, os marginais se sentem à vontade e não temem voltar à cena do crime para completar o serviço. “Via de regra, o campo está abandonado pelas autoridades de segurança. Enquanto a violência urbana está na mídia toda hora e faz parte das promessas dos candidatos, da segurança rural ninguém fala. O produtor, por sua vez, está inseguro, e muitos preferem nem dormir na propriedade. Estamos perdendo aquela visão bucólica, em que as pessoas vão morar no campo para buscar qualidade de vida”, diz Sanchez.
Para a CNA, as notícias de progresso do agronegócio brasileiro vêm despertando a cobiça dos marginais. As propriedades estão cada vez mais tecnificadas e usam maquinários, fertilizantes e defensivos agrícolas de alto valor agregado. “Com uma caminhonete pequena os ladrões conseguem fazer o furto de agroquímicos, por exemplo, que ocupam pouco volume e formam uma carga muito valiosa”, conclui Sanchez.
As chances de ser vítima de ladrões no meio rural aumentam quando a principal atividade é a pecuária. Segundo os dados da CNA, o furto de gado concentra 56% de todos os casos (leia relatos ao final da matéria).
Além de buscar as informações dos produtores, a CNA entrou em contato com as 27 secretarias de Segurança dos estados para compilar estatísticas e tentar fazer um diagnóstico da criminalidade no campo. “É surpreendente a dificuldade para se conseguir qualquer informação. Muitas secretarias sequer segmentam o que é urbano do que é rural”, revela Sanchez.
A intenção da CNA é continuar a coleta de dados até março ou abril de 2018 para, então, convocar parlamentares, especialistas e autoridades de segurança pública para um grande debate. Na ocasião, as informações estratégicas serão entregues aos órgãos competentes para que se tomem as providências adequadas. “Cada polícia estadual tem seus dados e elas não conversam. O Ministério da Justiça poderia unificar esses dados em uma única grande central”, diz o coordenador do Observatório da Criminalidade no Campo.
Siga este link para denunciar crimes contra a propriedade rural no observatório da CNA. Os dados dos produtor e da propriedade são mantidos em sigilo.
Veja abaixo alguns dos relatos dos produtores ao observatório. Os casos são de 2016 e 2017 :
Santa Catarina:
“Foi uma tentativa de roubo, quebraram uma porta da cozinha onde ficavam as ferramentas como roçadeira, motosserra e outros objetos e do galpão para retirar um automóvel, mas quando tocou o alarme os ladrões fugiram”.
Minas Gerais:
“Criminosos invadiram a fazenda, reuniram mais ou menos 200 cabeças de gado no curral, quando se preparavam para embarcar o gado, ao cair da tarde, o proprietário chegou na fazenda. Nesse momento o proprietário foi rendido, amarrado junto com seu empregado. Os bandidos saíram no veículo do fazendeiro, levando seus pertences, deixando-os amarrados no local. Em seguida as vítimas conseguiram se livrar e soltar o gado antes do retorno dos bandidos, impedindo com isso o embarque dos mesmos”.
Rio Grande do Sul:
“Furto e depredação de todo apiário com cerca de trinta caixas e caixilhos. Furto de mais de 150 kg de mel. Em novembro de 2016, nos dias 12 e 21 houve outras invasões com o mesmo modo operante que arruinou o mesmo apiário. Com prejuízo de material, mel e invasão de propriedade particular”.
Bahia:
Caso 1 – “Venho por meio da CNA participar a invasão da propriedade que indivíduos armados ameaçaram e retiraram os funcionários dos imóveis quebrando os cadeados das casas fechadas, furtando o cacau e encaminhando para venda, através de ameaças aos funcionários, os mesmos estão abatendo os animais que se encontram na propriedade como também fazendo a retirada de madeira de lei da Mata Atlântica. Trazendo transtornos para o proprietário e os trabalhadores, os impedindo de permanecerem na propriedade”.
Caso 2 – “Durante vários anos a propriedade vem sofrendo com vários furtos (amêndoas e frutos de cacau), ferramentas, utensílios de trabalho, arrombamentos de residências e depósitos. Em 04/2016 ocorreu o abate e furto de vacas no estábulo da fazenda. Jovens circulam pela propriedade usando drogas e alguns com armas de fogo. Depois de dar entrada em vários boletins de ocorrência, desisti de dar queixas”.
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Produtores investem em segurança com aumento de roubos de café
Só neste ano, foram registrados pelo menos 30 ocorrências no Sul de MG.
Especialistas dizem que preço da saca e falta de segurança são problemas.
O aumento do número de roubos a propriedades rurais no Sul de Minas, principalmente por causa do café, já faz com que os produtores comecem a investir em mais segurança. Alguns produtores já contrataram inclusive segurança armada para vigiar a propriedade à noite. E a ordem é bem clara: se alguém invadir, eles vão atirar.
“Nós avisamos a todos os moradores para a partir das 18h não vir visita, porque o segurança não sabe se é ladrão ou se é visita”, disse o produtor Carlos Alberto Jacob.
Só neste ano, foram registrados pelo menos 30 roubos a fazendas e armazéns de café na região. Em um armazém, de onde os ladrões levaram 187 sacas de café, o proprietário investiu em monitoramento. Os sensores e as câmeras já deram resultado. Os criminosos voltaram, mas desta vez levaram apenas uma moto.
Autoridades de segurança pública e produtores rurais acreditam que alguns fatores têm contribuído para o aumento de ocorrências que envolvem o roubo de sacas de café no Sul de Minas. Segundo eles, o preço da saca, em torno de R$ 500, a facilidade dos criminosos de vender o café roubado e a fragilidade das propriedades contribuem para o aumento de casos.
“O efetivo da polícia não é suficiente para cobrir uma área tão grande, de café. Então eu acho que uma das opções que nós temos que reivindicar do governo estadual é serviço de inteligência. Pegar essas quadrilhas, ver quem está receptando esses cafés, a facilidade com que eles estão saindo com esse produto, acho que o caminho é esse para acabar com essa roubalheira que está nas fazendas”, disse o presidente do Centro de Comércio do Café, Archimedes Coli Neto.

No começo do mês passado, durante a madrugada, 20 homens encapuzados e armados invadiram três propriedades em São Pedro da União (MG). Enquanto um grupo vigiava os reféns, o outro roubava o café. No dia 5 do mês passado, 20 criminosos invadiram uma fazenda em Divisa Nova (MG) e levaram 300 sacas de café, deixando um prejuízo de cerca de R$ 200 mil. A quadrilha rendeu nove moradores, que foram obrigados a transferir o café de bags para sacas menores. A ação durou nove horas.
A Polícia Civil diz que vem investigando os casos e que está em contato com autoridades do Estado de São Paulo para tentar chegar aos criminosos. O delegado regional de Poços de Caldas (MG) diz que essas quadrilhas têm um modo de ação parecido.
“Temos quase certeza que são pessoas talhadas pra esse tipo de função, escolhidas a dedo para essa missão. São quadrilhas que têm um certo conhecimento na logística de café, no manuseio, são especializadas dessa forma, principalmente as quadrilhas de assalto, que rendem uma família inteira, uma casa toda e ainda colocam pessoas para que carreguem a saca de café”, disse o delegado regional Sérgio Elias Dias.
Segundo a polícia, o produtor deve ficar atento ao colocar uma segurança armada na propriedade, já que existe uma legislação específica para ser seguida e que o uso de armas sem autorização de porte é crime.