Publicado em 26/04/2016 12:31 e atualizado em 26/04/2016 13:41
Especulações climáticas estimulam compra dos fundos e preços sobem na CBOT
Há meses o mercado internacional de grãos não passava por sessões tão voláteis como as que foram registradas nas últimas semanas. A volta dos fundos de investimento aos negócios atuando de forma mais rápida e agressiva trouxe esse movimento de volta e fez com que os futuros da soja e do milho, por exemplo, registrassem expressivas altas.
Nos últimos 20 dias, o contrato maio/16 da soja subiu de US$ 9,1350 para US$ 9,975 por bushel, acumulando um ganho de 9,20%, enquanto, no mesmo período, o agosto/16 avançou 9,47%, subindo de US$ 9,2425 para US$ 10,1175. No caso do milho, o maio/16 foi de US$ 3,5450 para US$ 3,7700, com uma alta de 6,35%, já o setembro/16 passou de US$ 3,6175 para US$ 3,8225, registrando um incremento de 5,67%.
Dessa forma, os fundos aumentaram suas apostas altistas nos grãos no ritmo mais rápido em seis anos, segundo aponta um levantamento do site internacional Agrimoney. De acordo com números do do regulador Commodity Futures Trading Comission (CFTC), os investidores aumentaram sua posição líquida comprada em futuros e opções nas 13 principais commodities agrícolas negociadas nas bolsas norte-americanas na última terça-feira (19) para 323,995 mil lotes, consolidando o maior movimento de alta em todo o complexo de agrocommodities desde o último mês de março.
A atuação daqui em diante desses fundos e o destino do dinheiro administrado nesses ativos, porém, ainda gera algumas incertezas. Afinal, como explicam analistas de mercado, parte desse movimento foi intensamente motivado pelas especulações climáticas tanto nos Estados Unidos quanto na América do Sul.
“A situação deverá ser de bastante volatilidade agora”, diz Glauco Monte, diretor de commodities da FCStone. Para o executivo, o mercado de grãos viu ainda a chegada de um prêmio de risco climático neste período de início de plantio da nova safra, o que é normal para esta época da temporada e algo que também atrai os fundos investidores. “O mercado estava muito baixo e precisava subir para estimular o plantio”, completa.
E Monte complementa dizendo que “qualquer problema na América do Sul acaba gerando mais demanda para os Estados Unidos. E diante da queda no câmbio no cenário internacional, os produtores norte-americanos voltaram a ser mais competitivos. Semana após semana temos visto os números das exportações melhores, isso contribuiu para acelerar as cotações em Chicago”.
Clima na América do Sul
As previsões e condições climáticas deixaram os mercados totalmente agitados nesses últimos dias. E um dos locais que mais chamaram a atenção dos traders e investidores foi a Argentina e o excesso de chuvas que resultou em perdas bastante severas nas lavouras locais de soja.
O país viveu semanas consecutivas de precipitações fortes e sem trégua, que promoveram um atraso da colheita e a deterioração das plantações, que vinham perdendo a qualidade dia a dia por conta desse quadro. Segundo as últimas projeções oficiais do governo argentino, as perdas serão de, ao menos 4 milhões de toneladas, o que deve levar a produção a algo próximo de 57 milhões de toneladas.
No Brasil, situação inversa. A safra das regiões Norte e Nordeste, principalmente da área conhecida como Matopiba – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – passaram meses sem a quantidade adequada de água e, como relata o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, a baixa deve chegar a 2 milhões de toneladas nessa conclusão de ciclo. Traders internacionais têm um consenso, como explica o consultor, de que a safra do Brasil nesta temporada deva se concluir com algo entre 98 e 98,5 milhões de toneladas.
Nesta semana, o cenário climático no Brasil começou a mudar em função do término de um bloqueio atmosférico que estava sobre a região Central do país, promovendo essa estiagem. “As chuvas tão esperadas chegaram e estão chegando à diversas localidades das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste”, afirma Marco Antônio dos Santos, agrometeorologista.
Ainda segundo suas últimas previsões, há chuvas que podem chegar também sobre as regiões produtoras do Matopiba entre a quinta (28) e sexta-feira (29) dessa semana. “Como irá ocorrer na maioria das regiões, os volumes totais de chuvas acumulados com a passagem dessa frente não serão altos, variando entre 5 a 30 mm em média”, explica o especialista.
Dessa forma, a última estimativa do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) para a safra mundial 2015/16 de soja deverá ser reduzida, ainda de acordo com Brandalizze, de 320,2 milhões de toneladas para, ao menos, algo perto de 314 milhões com essa quebra recém contabilizada na América do Sul.
Enquanto isso, a demanda vem se fortalecendo e a projeção do departamento norte-americano, portanto, também deveria ser corrigida, nesse caso para cima, e chegar a, ao menos, 320 milhões de toneladas, ainda de acordo com o que estima Brandalizze.
Clima nos Estados Unidos
A nova safra dos Estados Unidos está apenas começando e as condições de clima, até este momento, se mostram favoráveis, o que já leva os atuais índices de plantio, principalmente do milho, a superarem as médias plurianuais e o registrado no mesmo período do ano passado.
O USDA trouxe, nesta segunda-feira (25), seu novo reporte semanal de acompanhamento de safras e os primeiros números da soja começam a aparecer, ainda que de forma bastante tímida. Até o último domingo (24), o plantio da oleaginosa já havia sido concluído em 3% da área, ligeiramente acima dos 2% da média dos últimos cinco anos e do mesmo período do ano anterior. Já a semeadura do milho avançou, em uma semana, de 13% para 30%. Em 2015, nesse mesmo período, o plantio estava feito em 16% da área, número que também é a média dos últimos anos. A expectativa do mercado variava de 25% a 30% para esta semana.
para analsitas internacionais, esse ritmo rápido na semeadura se dá às boas condições de clima no Meio-Oeste americano, aliado a avanços tecnológicos aplicados nos trabalhos de campo, bem como o trabalho duro dos produtores locais, que lutam contra o tempo para não perderem essa boa janela climática. Algumas áreas, nas próximas semanas, porém, poderiam perder parte dessa velocidade por conta de chuvas acima da média.
Os últimos mapas climáticos do NOAA, o serviço oficial de clima dos EUA, indicam que, nos próximos sete dias, as Planícies do Sul poderão receber fortes precipitações, com volumes elevados em nos vales dos rios Mississipi e Ohio.
Já na segunda semana de maio, como mostram os mapas dos próximos 6 a 10 e 8 a 14 dias, o padrão deverá ser de tempo mais seco.
No entanto, as dúvidas sobre a continuidade desse ambiente favorável para a nova safra norte-americano seguem gerando dúvidas e, consequentemente, volatilidade ao mercado internacional de grãos, já que deverá impactar, diretamente, as decisões dos fundos investidores daqui para frente.
Para Andrea Cordeiro, analista de mercado da Labhoro Corretora, essa é a grande chave de definição para o posicionamento desses fundos. “Será que esses fundos continuarão a aumentar tais posições? Será que a defenderão nos recuos? Será que com a evolução da safra americana os fundos abandonarão as compras? Essas perguntas valem milhões e milhões de dólares”. Essas são, segundo Andrea, as questões que os investidores deverão levantar diariamente até que uma definição esteja mais clara sobre o clima.
E há ainda as perspectivas sobre a confirmação ou não de um La Niña seguindo um dos mais fortes El Niños de todos os tempos. “No momento os mapas NÃO confirmam a entrada do La Niña. Mas apertem os cintos porque nesta semana, o ENSO atualizará as previsões sobre El Niño/La Niña, o que pode alimentar especulações nervosas em Chicago”, diz a analista.
Assessoria de Comunicação
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