
70% do feijão brasileiro é oriundo da Agroecologia e da agricultura familiar
A agroecologia tem a finalidade de transformar a atividade rural em agronegócios rentáveis por meio do uso sustentável e da conservação dos recursos naturais. Dessa forma, expande-se o número de pessoas ocupadas na produção e, consequentemente, aumenta-se o faturamento bruto.
Responsável pela maioria dos alimentos que chegam às mesas dos brasileiros, a agricultura familiar pode ter, vez ou outra, sua presença tão marcante passada despercebida, se lembrarmos que 87% da mandioca, 70% do feijão, 58% do leite, 50% de aves, 59% dos suínos, 46% do milho, 38% do café e 34% do arroz consumidos por nós são oriundos desta prática.
A fim de facilitar a abertura de mercado para agricultores familiares goianos, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Goiás (Sebrae-GO) desenvolve diversas ações voltadas para o tema, como a Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais) e o programa Negócio Certo Rural.
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Boas expectativas marcam o início da safra de grãos
A expectativa de uma boa safra de grãos está gerando reflexos positivos em setores da economia que dependem da agricultura. Influenciada por condições climáticas mais favoráveis para o desenvolvimento das lavouras neste ano, a previsão para a safra 2016/2017 é de mais de 210 milhões de toneladas de grãos produzidas, segundo os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Essas expectativas positivas acendem o sinal verde para outros setores da economia que dependem diretamente da produção agropecuária. No caso das máquinas agrícolas por exemplo, segundo os dados da Associação dos Fabricantes (Anfavea), outubro já registrou um crescimento de 35% em relação a setembro deste ano, dados estes que compravam um retorno no otimismo dos empresários e produtores do setor rural.
Atual quarto maior estado produtor de grãos, Goiás segue na mesma expectativa nacional, com previsão de safra recorde neste ano. Segundo os dados da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), a produção goiana de grãos deve atingir nesta safra os 21,2 milhões de toneladas, com grande destaque para as culturas da soja e do milho, que juntas representam cerca de 93% do total produzido.
Esses produtos abastecem a vasta cadeia agroindustrial do estado, sendo insumos básicos na produção de carnes e lácteos e também para a indústria alimentícia. No caso da soja, mesmo sendo exportada apenas cerca de 35% da nossa produção total, a oleaginosa é o principal produto da balança comercial do estado, sendo responsável por cerca de 25% do total exportado em 2015.
A principal região produtora de grãos no estado é o Sudoeste Goiano, porém a produção goiana já se encontra bastante dispersa, com crescimento significativo nos últimos anos nas novas fronteiras agrícolas goianas, o Vale do Araguaia e o Extremo Norte do estado. Entre os municípios, Rio Verde, Jataí e Cristalina são os maiores produtores estaduais.
A safra gera boas expectativas também aos produtores rurais, que ano após ano vêm enfrentando problemas de perdas em função do clima. “Nas últimas três safras tivemos problemas relacionados com a falta de chuvas, seja na safra de soja no verão, ou no milho na safrinha. Uma safra cheia nesses dois períodos é mais do que bem-vinda e pode amenizar a situação financeira complicada que muitos produtores se encontram atualmente”, afirma o assessor técnico da Faeg, Cristiano Palavro. Porém o consultor alerta que a safra ainda esta começando, e as previsões podem se alterar durante o ciclo produtivo.
As condições da safra também trazem reflexos aos consumidores finais, pois os níveis de oferta destes produtos impactam diretamente nos preços. É o que assessor técnico da Faeg, Pedro Arantes. “Os efeitos nos preços sofrem interferência de outras variáveis, porém a oferta desses produtos é a principal delas. No caso de produtos básicos, que vão direto para a mesa das famílias, como o arroz e o feijão, por exemplo, esse efeito é direto. Já para as cadeias da soja e do milho, os efeitos mais significativos podem ser observados nos preços das carnes, suína e de frango, principalmente, nos derivados de leite”, ressalta ele.

Tecnologia reduz perdas na colheita do feijão
Uma tecnologia que permite adaptar as colhedoras usadas para soja e trigo para a colheita mecanizada do feijão pretende reduzir as perdas nesta etapa da produção e, assim, garantir maior rentabilidade aos produtores e maior oferta do alimento na mesa dos brasileiros. Trata-se de uma adaptação na plataforma específica para a cultura, desenvolvida pela empresa INCOMAK, de Jandaia do Sul (PR), com apoio tecnológico do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) através da Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento do Agronegócio (Fapeagro).
De acordo com o pesquisador Hevandro Colonhese Delalibera, da área de Engenharia Agrícola do IAPAR, o projeto da empresa obteve recursos de financiamento público através de Subvenção Econômica de Inovação (Tecnova). “O IAPAR oferece ferramentas tecnológicas para reduzir o custo do desenvolvimento e da produção e também fará a validação do produto. A Fapeagro é a gestora do recurso direcionado para a instituição pública”, explica.
Na prática, o projeto visa melhorar o processo de colheita mecanizada do feijão. Delalibera conta que, nas lavouras, os produtores rurais contam até agora com duas opções de colheita: a semi mecanizada, com parte do processo de colheita realizada manualmente por trabalhadores e parte realizada por máquinas; ou a colheita mecanizada, com utilização de colhedoras com plataforma de colheita empregada para soja ou trigo.
“A questão é que o feijão é uma cultura regional, em termos de mundo, e há pouco tempo de pesquisas em melhoramento voltadas a selecionar plantas com características interessantes para a colheita mecanizada, como já ocorre com a soja”, explica o pesquisador, destacando que as plantas possuem hábito de crescimento prostrado, ou seja, são muito rasteiras. Essa característica dificulta a mecanização, proporcionando perdas de até 30% dos grãos quando usados os equipamentos originalmente fabricados para commodities, sendo que pelo menos metade disso é proporcionado pela plataforma de corte e recolhimento da colhedora.
Para reduzir esta perda, o pesquisador do IAPAR, em parceria com a INCOMAK, está auxiliando o desenvolvimento de uma adaptação para as plataformas das colhedoras que as tornam mais eficientes para o feijão. “Estamos testando uma alteração no molinete que permite pegar as plantas mais próximas do chão”, esclarece, destacando que a tecnologia também é adequada para a soja quando a cultura apresenta baixa produtividade e estatura de planta.
Segundo ele, esta é uma alteração simples, de baixo custo, que vai garantir uma colheita mais eficiente do feijão sem necessidade de comprar uma nova máquina. “Basta trocar a peça da plataforma da colhedora para adaptá-la ao feijão. Quando for colher soja ou trigo, é só retornar o sistema original da plataforma caso seja necessário”, reforça.
Delalibera destaca que as grandes empresas multinacionais da área de máquinas agrícolas focam no desenvolvimento de tecnologia para as grandes culturas mundiais. “O feijão é um alimento comum para os brasileiros e outros poucos países. Como a grande indústria não foca na cultura, torna-se um nicho interessante para as empresas nacionais menores”, destaca.
Os resultados finais da pesquisa e o produto acabado serão apresentados pelo IAPAR ao público em fevereiro do ano que vem durante o Show Rural em Cascavel. Profissionais da área de colheita que estão testando o produto, porém, garantem que os resultados são surpreendentes.
Celso Ferreira Leite é dono da empresa CL Colheitas, que terceiriza a colheita de várias culturas na região de Jardim Alegre. Ele é um dos parceiros do projeto e está testando a plataforma para colheita de feijão. A cada alqueire, ele costumava perder cerca de 20% da produção usando a máquina de soja. Com o equipamento adaptado para o feijão, reduziu as perdas para 5% a 7%. Ele colhe uma média de 100 alqueires ao ano e contabilizava perdas de 8 a 10 sacas por alqueires. “Agora reduzimos para 3 a 4 sacas”, diz, destacando que a eficiência da tecnologia se mostra também na seca, quando o feijão ralo não cresce e fica impossível de ser colhido. “O produto resolve o problema”, diz.

Tradição na mesa do brasileiro, feijão inflaciona alimentação
Ao longo deste ano, os brasileiros vão consumir 3,2 milhões de toneladas de feijão. Neste inverno, no entanto, o preço deste alimento tradicional, que agrada a ricos e a pobres, chama a atenção por atingir picos de R$ 300 pela saca de 60 quilos e quase R$ 7 pelo quilo nas prateleiras dos supermercados, com elevação de quase 40% em cinco meses.
Curinga na mesa dos brasileiros de todas as classes sociais, por combinar com diversos pratos, ter preço normalmente acessível e até cumprir papel de substituto da proteína animal, o feijão atingiu neste mês cotações que surpreenderam consumidores e também produtores. Números divulgados pela Emater do Rio Grande do Sul nesta semana apontam que a saca de 60 quilos do grão chegou a ser negociada por R$ 300, como preço máximo, e por R$ 203,95 como preço médio. Se os valores forem comparados com os da terceira semana de julho de 2015, quando o preço médio (corrigido para os dias atuais) era de R$ 136,37, a variação chega a 49,3%.
Apesar de robustos, os números do Estado, que é produtor de feijão preto, são menos vigorosos que os do país. Durante a semana, o feijão carioca, o mais cultivado do Brasil, passou de R$ 500 em algumas praças de Goiás e da Bahia. No início do mês, com a notícia de que a variedade estava batendo em R$ 600, houve casos de roubos a lavouras do Sul de Minas Gerais. Alguns agricultores da região contrataram seguranças para proteger suas propriedades.
As explicações para o fenômeno que está fazendo o consumidor pensar duas vezes antes de colocar o produto no carrinho de compras na prateleira do supermercado o quilo do feijão saiu de R$ 4,96 em fevereiro para R$ 6,96 neste mês, aponta pesquisa semanal feita pela Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) — são conhecidas. A cultura é considerada muito sensível ao clima e vem registrando quebras sistemáticas. Isso tem desestimulado o produtor, que prefere utilizar as áreas disponíveis para plantios mais rentáveis, como a soja.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que a produção brasileira de feijão deverá fechar 2016 com 2,9 milhões de toneladas, 6,6% menos que em 2015, o que explica a escassez, já que o consumo estimado é de 3,2 milhão de toneladas.
Apesar da alta dos preços, o analista de mercado Carlos Cogo diz que o produtor de feijão precisa ter cautela porque a oscilação é artificial. “Trata-se de uma cultura que tem não política específica de preços”, ressalva. “Num ano, o feijão pode ser cotado a R$ 10 a saca e virar adubo, porque a colheita não vale a pena, e no outro pode chegar a R$ 600”, compara. “Essa falsa ideia de valorização pode levar a uma corrida do agricultor pelo aumento de área que, em vez de lucro, pode trazer prejuízo”, alerta.
No Rio Grande do Sul, somando a primeira e a segunda safras, foram plantados 62 mil hectares de feijão, com uma produção total de 99 mil toneladas. O agrônomo da Emater/RS, Renan Corá de Lima, estima uma pequena ampliação da área, de 6% a 8%, motivada pelo aquecimento dos preços. “Mas ainda é cedo para fazer uma previsão, já que o plantio se inicia apenas em setembro no Estado”, afirma.
Cautelosos, produtores preveem aumento de até 15% no plantio
Embora satisfeitos com os bons preços do feijão neste ano, os agricultores do Rio Grande do Sul encaram o atual momento sem euforia. Presidente da Aprofeijão, entidade que congrega cerca de 500 produtores do segmento, Tarcísio Cereta acredita que o aumento da área plantada pode chegar a até 15%. Plantador de feijão na região de Sobradinho, ele reconhece que realmente tem sido mais atrativo dedicar áreas à soja e ao milho, culturas com desempenhos mais consistentes no mercado. “Nós viemos de quatro anos de problemas na cultura do feijão, com quebras de safra e produção de baixa qualidade por causa da umidade”, recorda, admitindo que isso deixa o produtor desconfiado e sem estímulo. “Neste ano, com os bons preços e a perspectivas do La Ninã, se o tempo for seco e frio, mas sem muita geada, quem plantar feijão em setembro vai ter lucro”, prevê.
O presidente da Comissão do Feijão da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e do Sindicato Rural de Sobradinho, João Carlos Guariense, compreende que o preço do feijão está ligado à escassez do produto no mercado nacional, mas não acredita num grande aumento de área. “O feijão é uma cultura de muito risco, muito sensível ao clima, achamos que vai haver crescimento, mas com cautela”, projeta.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen, Nadir José Busato, lembra que o município já foi um dos maiores produtores de feijão preto do país, desempenho que foi minguando com as dificuldades. “Hoje, temos aqui uma produção quase nula de feijão entre os pequenos agricultores, que não conseguem competir com as propriedades maiores, que já apostaram na mecanização. O produtor vai aumentar o plantio este ano, sim, mas não muito, pois as sementes são escassas e estão caras, em média R$ 5 o quilo”, diz.